Atualmente já possível medir, através da distância entre os corpos, como o significado de privacidade varia de uma cultura para outra. Com este conceito os etnólogos dividem os países entre “culturas do contato”, onde há muito contato físico e o coletivo é colocado em primeiro plano; e as “culturas do não contato”, onde existe uma distância polida e o individualismo tem primazia.
Segundo o holandês Geert Hofstede, especialista em psicologia social, a noção de privacidade depende do grau de individualismo ou coletivismo de uma cultura. Mas não só: “A dimensão da esfera privada depende também do espaço e, por conseguinte, também da riqueza de que se dispõe. Embora a riqueza venha primeiro, e depois o individualismo”, fala Hofstede.
Podemos inserir nas “culturas do contato” o mundo árabe, a América Latina e o Sul da Europa. São nestas regiões onde a proximidade e contato físico são maiores. Nas “culturas do não contato”, o contato corporal é restrito ao mínimo necessário, como acontece no Norte da Europa. Hofstede chama isso de “distância de conforto” que mostra a distância de que as pessoas precisam para se sentir à vontade.
No Brasil, por exemplo, a distância entre as pessoas é muito menor que muitos países da europa, onde a individualidade é muito mais rigida. Filhos no Brasil demoram muito mais a sair de casa e a ter a sua própria vida, e em muitos casos so saem para casar e ter a sua própria família. Somos uma cultura de contato que hoje, neste mundo digital e moderno esta se encontrando e mesclando com culturas de não contato… e isto influencia em todos os aspectos da vida, na vida pessoal, no contato com as pessoas, na vida profissional, enfim, ambos os lados tem que se adaptar e abrir mão, muitas vezes da sua forma de ser.
A Alemanha, por exemplo, é considerada o país dos individualistas. Ou, em outras palavras: um país onde se pode viver na mais perfeita solidão. Pelo menos é o que sentem muitos representantes das culturas do contato que vivem no país.
Em um artigo sobre privacidade usando como exemplo uma cena da comédia norte-americana Spanglish, típica de famílias que migraram de um meio cultural para outro, mostra uma mãe Mexicana e o relacionamento com a filha que tem como frase predileta: “Estou precisando de uma certa distância”, o que para uma mãe latina está fora de cogitação: “Distância entre nós? Jamais!”, retruca. Isso mostra qual a proximidade tolerada dentro de uma família.
Nas culturas “ocidentais”, a esfera privada é um direito inalienável do indivíduo. Na Alemanha, por exemplo, é considerada o espaço onde a pessoa pode se comportar à vontade, sem ser observada nem escutada por outros. Nos EUA, a privacidade é o “right to be let alone”, ou seja, o direito de ser deixado em paz.
O conceito de privacidade em outros países reflete-se também no cotidiano profissional, principalmente quando se trata de conferências internacionais. Alexander Groth, orador profissional, já participou de diversos simpósios em todo o mundo e relata sua experiência.
“Na Argentina, os outros homens chegam pertíssimo de você. Você sente no rosto a respiração do outro e é cutucado o tempo todo” – algo altamente desagradável para um europeu setentrional. Na Índia, o contato é ainda mais próximo ainda: “Imagine só: um colega indiano o convida para ir ao restaurante e fica de mãos dadas com você. Como europeu, você até sua frio”.
No mundo dos negócios, o tema comunicação intercultural e privacidade recebe grande ênfase. Juntamente com especialistas em questões culturais, inúmeros autores de livros sobre gestão de empresas pesquisam as convenções de cada país. Pois o sucesso do relacionamento entre duas pessoas de origens distintas, seja ele privado ou profissional, depende também da compreensão cultural mútua. Alexander Groth já viveu isso na própria pele.
“Um alemão e um argentino estão conversando: o argentino vai chegando mais perto do alemão. O alemão dá um passo para trás. O argentino pensa: ‘Assim não vai dar’, e chega mais perto ainda. O alemão dá outro passo para trás. Se o evento for num terraço, alguma hora essa história vai acabar mal”, conclui o orador, rindo.